Ressaca Mental: Reflexões sobre “Democracia em Vertigem”

O documentário de Petra Costa sobre os recentes eventos políticos do Brasil oferece uma visão intensa e pessoal, refletindo sobre o abismo político e o terror da perda da democracia.

Após assistir ao documentário Democracia em Vertigem, a sensação é de uma ressaca mental profunda, reflexo do impacto que a obra causa. A diretora Petra Costa consegue, de forma brilhante, registrar a tensão e o sentimento de injustiça que tomaram conta de muitos brasileiros nos últimos anos, ao contar a história política recente do país. Com cenas exclusivas, muitas delas capturadas pelo renomado fotógrafo Ricardo Stuckert, o documentário se coloca como uma das melhores narrativas historiográficas sobre os eventos que marcaram a política brasileira, oferecendo uma visão única e envolvente.

A narrativa do filme é construída a partir do olhar político de pessoas posicionadas à esquerda, o que confere uma perspectiva rica, mas também cheia de complexidade. Não é uma visão isenta ou neutra; é claramente a visão de quem vivenciou e sofreu as consequências das rupturas políticas e sociais que o Brasil atravessou. No entanto, mesmo sendo um relato subjetivo e politicamente orientado, o documentário não perde sua força histórica e, ao contrário, resgata momentos da nossa história recente com uma potência única.

O que torna a obra tão impactante é a forma como ela captura a sensação de um thriller político. Ao longo do filme, somos imersos em um ambiente de tensão crescente, onde a injustiça e o medo de um futuro incerto se tornam palpáveis. A perspectiva da esquerda, com todas as suas convicções e medos, é mostrada com uma sinceridade desconcertante. O horror que emana desse olhar não é apenas sobre o golpe que foi dado, mas também sobre o abismo que se abriu sob os pés daqueles que acreditavam na estabilidade da democracia brasileira.

A sensação de vertigem, que permeia o título do documentário, é uma metáfora poderosa para a incerteza que tomou conta da população durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff e os desdobramentos que se seguiram. A “fresta interpretativa” da esquerda, como é chamada, expõe o medo de ver o país mergulhar em um abismo, algo que a protagonista da narrativa — uma figura da esquerda — vê com cada vez mais clareza e horror.

O documentário não é apenas uma crítica política, mas também uma introspecção sobre a fragilidade das instituições e das democracias. A maneira como a história é contada, com profundidade emocional e um olhar atento às complexidades do momento, nos faz questionar até que ponto estamos dispostos a abrir mão de valores fundamentais em nome da política.

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