A visibilidade da culpa dos governantes

É difícil pensar em validade de uma luta quando percebemos que as lutas em si surgem em momentos em que o conjunto de valores estabelecidos está sob questionamento. Acredito que, quando um determinado grupo social passa a achar sua própria condição insuportável, toda luta é válida a partir da perspectiva desse contigente.

Devemos ter em mente que a antagonizacão das classes envolve também seus atributos epistemológicos e subjetivos, sendo um mero artifício ideológico dizer que determinadas ações, em âmbitos de manifestação, são válidos ou não.

Em geral, qualquer moralização é instrumental e é violenta per se, sendo normalmente utilizada pela estrutura dominante, não pelo dominado (talvez daí venha uma contribuição impressionante de Walter Benjamin para os movimentos sociais).

O que digo engloba não apenas os questionamentos sobre a greve de caminheiros que se encerrou na noite de hoje, mas também as conhecidas atribuições de “violência” e “vandalismo” dadas aos movimentos sociais em geral, inclusive às progressivas manifestações de rua que vemos hoje em dia desde – para datar – Junho de 2013.

São essas atribuições que legitimam a opressão militar do Estado, que, como todos no mínimo devem desconfiar, defende a ordem. Porém, me animo ao perceber que o “mal-estar geral da civilização” tem se mostrado cada dia mais claro e insuportável para um número proporcionalmente maior de pessoas, não apenas no Brasil, mas no mundo.

Cabe enfatizar por fim, meus caros, que a greve surge quando determinada classe identifica algum problema na estrutura. Contudo, certas coisas simplesmente não podem ser articuladas dentro da ordem e da burocracia porque a própria ordem é auto-defensiva.

Ela é constituída de forma a expelir aquilo que a enfrenta (talvez daí venha o distanciamento sindical das manifestações sociais mais espontâneas). Se um questionamento apontar para um problema estrutural, a melhor forma de enfrentá-lo definitivamente é por meio da não-ordem.

Assim, ao monte de gente que eu vejo reclamando e, por isso, “invalidando” as greves vigentes, saibam que se nós não nos sentirmos pelo menos minimamente prejudicados por uma greve é porque ela foi mal feita e está longe de atingir seus objetivos de existência.

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