O Golpe de Estado em Mianmar: A luta contra a democracia e a resistência silenciosa

Enquanto uma mulher dança durante sua aula de exercícios, sem perceber o que acontece ao fundo, Mianmar vive um dos momentos mais sombrios de sua história recente: um golpe militar que ameaça a democracia do país.

No dia 1º de fevereiro de 2021, Mianmar, após anos de regime militar, testemunhou a volta de uma junta militar ao poder, com a alegação de “fraudes nas eleições” para derrubar o governo democraticamente eleito de Aung San Suu Kyi, líder do país e vencedora com 83% dos votos. O golpe, realizado pela extrema-direita, contou com a mobilização das Forças Armadas e resultou no fechamento do acesso à internet, suspensão de voos e no cerceamento das liberdades civis.

O país, que experimentava um governo civil compartilhado entre Aung San Suu Kyi e os militares, agora se vê diante de uma nova ditadura que busca garantir os direitos da elite local e internacional, impondo-se sobre a vontade popular. O golpe foi feito com a justificativa de proteger a política da soberania popular, mas na prática, resultou na suspensão da democracia e na imposição de um regime militar.

A mulher no vídeo, que está completamente alheia aos eventos políticos que acontecem ao fundo, simboliza um comportamento comum: a distração diante de momentos históricos decisivos. Ela não percebe que atrás dela, o comboio militar avança em direção ao Parlamento, ao mesmo tempo em que o golpe toma forma, interrompendo a liberdade de um povo e transformando a esperança de uma democracia jovem em mais uma tragédia política.

O problema da extrema-direita, como se vê em Mianmar, não é o sistema eleitoral ou a integridade das urnas, mas a própria democracia. O golpismo e a busca pelo poder absoluto através das armas não são novos, mas ganham uma dimensão alarmante em tempos de polarização global. O golpe em Mianmar não se limita ao país, mas reflete uma onda de retrocessos democráticos que ameaça a estabilidade de nações ao redor do mundo.

O Brasil, que também enfrenta tensões políticas relacionadas à democracia e à transparência eleitoral, deve observar atentamente o desenrolar dos eventos em Mianmar. O país asiático, que começou a viver um processo democrático a partir de 2011, agora se vê à mercê de um regime que nega ao povo o direito de escolher seus líderes livremente.

Neste contexto de incertezas e autoritarismo, é fundamental que o Brasil, junto à comunidade internacional, manifeste apoio à luta do povo birmanês e garanta a proteção dos direitos humanos, ao mesmo tempo em que reafirma a importância da democracia como um pilar inegociável para a paz e a liberdade.

Imagem de protesto contra os militares de Mianmar com imagem da líder Aung San Suu Kyi, em 1º de fevereiro de 2021 — Foto: Athit Perawongmetha/Reuters
Imagem de protesto contra os militares de Mianmar com imagem da líder Aung San Suu Kyi, em 1º de fevereiro de 2021 — Foto: Athit Perawongmetha/Reuters/ G1

Mianmar: O golpe que interrompe a democracia e a luta pela liberdade

Mianmar, país localizado no sudeste da Ásia e anteriormente conhecido como Birmânia até 1983, é um Estado de cerca de 50 milhões de habitantes, majoritariamente budista. O país possui uma rica diversidade religiosa, com 80% da população praticando o budismo, enquanto pequenas parcelas seguem crenças tradicionais, protestantismo, islã, catolicismo, hinduísmo e outras religiões.

Após quase 50 anos de regime militar, Mianmar começou a viver uma fase democrática no início da década de 2010, quando reformas políticas e a realização de eleições parlamentares trouxeram uma nova esperança ao país. A partir de 2011, a Liga Nacional pela Democracia (NDL), liderada por Aung San Suu Kyi, obteve sucesso nas eleições, conquistando 83% dos cargos em disputa.

No entanto, em novembro de 2020, os militares, que ainda exerciam grande poder, contestaram os resultados das eleições, alegando fraudes, e decidiram tomar o poder. Utilizando a desculpa de “preservar a democracia”, mas, na realidade, buscando proteger os interesses da elite local e internacional, os militares sequestraram a liderança do país, começando com a prisão de Aung San Suu Kyi, do presidente Win Myint e de outros líderes civis.

Apesar de não ter ocorrido violência explícita, o golpe foi anunciado abruptamente, horas antes da primeira sessão do novo Parlamento eleito. Para garantir seu controle, os militares bloquearam as estradas ao redor da capital, suspenderam os serviços de internet e telefonia móvel e sobrevoaram a cidade com helicópteros. A situação no país rapidamente se deteriorou, com os membros do NDL, governadores regionais, políticos da oposição, escritores e ativistas sendo detidos.

O golpe foi proclamado em uma estação de TV militar, com um apresentador lendo um trecho da constituição de 2008 que autorizava a declaração de emergência nacional. O estado de emergência imposto deve durar um ano. Como resultado, os militares tomaram o controle de importantes setores da infraestrutura nacional, incluindo a suspensão de voos domésticos e internacionais, o fechamento de bancos comerciais e o bloqueio das transmissões de televisão.

Na maior cidade do país, Yangon, os moradores correram para estocar alimentos e suprimentos essenciais, temendo o impacto da instabilidade política e social. Mianmar, que recentemente experimentava uma democracia promissora, agora se vê em um cenário de repressão, onde a vontade popular é ignorada e os direitos civis são novamente cerceados. O mundo acompanha, com preocupação, a perda de mais uma nação para o autoritarismo militar.

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