O impacto da hierarquia hospitalar na autonomia de estudantes de medicina.

A formação médica, muitas vezes, é um campo permeado por desafios não apenas técnicos, mas também estruturais e emocionais. Um dos maiores obstáculos encontrados por internos e residentes no internato médico é a relação hierárquica imponente, que, em muitos casos, limita a capacidade de pensar e agir de forma autônoma.
Embora o processo de ensino médico envolva a transmissão de conhecimento técnico e ético, a maneira como a hierarquia hospitalar funciona frequentemente coloca os estudantes em uma posição onde sua voz é silenciada, transformando o ambiente educacional em um espaço em que o simples ato de pensar pode ser visto como um ato de resistência.
É surpreendente como a estrutura hospitalar, ao invés de incentivar a autonomia e o pensamento crítico, frequentemente infantiliza os internos, inclusive aqueles com mais de 30 anos de idade. Esses estudantes, muitas vezes, se veem forçados a acatar a opinião do médico assistente, mesmo quando suas próprias observações e análises divergem. Em muitos casos, expressar uma opinião contrária à de um superior pode ser interpretado como arrogância, o que gera um ambiente de conformismo, em que os internos se sentem compelidos a aceitar tudo sem questionar.
Essa dinâmica não se limita apenas à interação com médicos assistentes. Estudantes e residentes, progressivamente, tornam-se incapazes de tomar decisões éticas de forma autônoma, muitas vezes necessitando consultar superiores, independentemente de quão óbvio o caso seja. Mesmo quando o estudante ou residente é responsável por assinar uma conduta, a presença do superior se impõe, sugerindo que a autoridade maior está com quem ocupa uma posição hierárquica superior, e não com aquele que realmente se depara com a situação prática.
O impacto dessa hierarquia na formação médica é evidente. Muitas vezes, o hospital se torna um ambiente onde a capacidade de pensar e de tomar decisões é prejudicada, o que levanta questionamentos sobre a eficácia desse modelo para o desenvolvimento de médicos capazes e éticos. O que se observa é que o estudante de medicina, embora tecnicamente qualificado, não tem espaço para exercer sua autonomia ética, crucial para a relação médico-paciente.
É importante lembrar que os estudantes de medicina são adultos, que estão plenamente capacitados para tomar decisões e refletir sobre os aspectos técnicos e humanos de sua profissão. O desenvolvimento ético e crítico é parte essencial da formação médica e não deve ser negligenciado em favor de uma hierarquia rígida que, em vez de orientar, impede o exercício do pensamento independente.
A construção de uma autonomia ética só é possível quando a estrutura educacional oferece um ambiente em que o estudante se sinta respeitado como sujeito pensante e maduro. Caso contrário, a prática de pensar e tomar decisões se torna um ato de resistência, algo que deveria ser natural em um processo de aprendizagem. A hierarquia hospitalar, como é observada em muitos contextos médicos, precisa ser repensada para que os estudantes de medicina possam realmente se tornar profissionais éticos, autônomos e capacitados, não apenas em termos técnicos, mas também em sua relação com os pacientes e com a sociedade.