Vacinajá para todos

Muitas vacinas possuem a função principal de evitar quadros graves. A vacina contra a influenza é uma delas. Claro que a taxa de proteção contra casos graves quando aplicada na população não será de 100%, também não sabemos por enquanto como fica essa taxa após 6 meses da vacinação.

Os estudos continuarão a todo vapor após o início da vacinação. Mas ter esse número no ensaio clínico é sim muito promissor, e 78% de prevenção em casos leves também é considerável. Representa um poder significativo de diminuir o alastramento da infecção na população.

Precisamos ainda avaliar a metodologia e os dados brutos publicados para julgar o estudo. Mas se confirmados esses valores, certamente milhares de vidas serão salvas no mínimo por desafogar hospitais e prontos-socorros. Quanto antes e urgentemente vacinarmos, melhor.

Aparentemente o movimento antivacina tomou proporções maiores do que a mera xenofobia infundada e desconectada da realidade contra a China. O que vejo, inclusive nas últimas falas do presidente, que é quem dita o rumo da polêmica, é um questionamento geral sobre a validade de vacinas, sobre sua segurança e sobre a lisura do processo acelerado de pesquisa sobre elas. Questionamentos esses permeados por oportunismos e inconsistências.

Vamos lá. Vacinas oferecem riscos e possíveis efeitos colaterais ou reacionais? Sim. Como toda e qualquer intervenção médica. Inclusive, as tais três fases de pesquisa de vacina servem justamente para avaliar a relação entre eficácia de proteção imunológica e os efeitos colaterais. Ela então é aprovada quando os benefícios superam significativamente os riscos.

Isso significa que é 100% seguro tomar vacina? Não. Significa que é muito mais seguro tomar do que não tomar.

Mas e quem já teve Covid-19 vai precisar tomar a vacina? Sim. O risco de reinfecção existe e a indução de resposta imunológica por infecção e vacina são diferentes. São duas doses de vacina justamente para aumentar as chances de resposta imunológica adequada.

“Mas essas vacinas foram produzidas rápido demais. Posso confiar?”. Os prazos das fases de testagem foram respeitados. Normalmente as vacinas demoram mais em função das dificuldades técnicas de pesquisa em laboratório e burocracias de aprovação de pesquisa em conselhos de ética, disponibilização de verba etc. No entanto, nunca antes houve tanto dinheiro e esforço humano coletivo quanto nas pesquisas para produção da vacina contra o SARS-CoV-2 dada a gravidade da pandemia. Foi tanto dinheiro perdido com as consequências econômicas da Covid-19 que o investimento para conter a pandemia tornou-se altamente desejável.

De certo modo, é um milagre da ciência e tecnologia que a humanidade tenha conseguido produzir de forma tão rápida e eficaz a vacina, um triunfo histórico inédito que merece ser comemorado, não posto em questionamento desqualificado.

“Mas o que eu acho errado é o supremo obrigar as pessoas a se vacinarem. A liberdade individual vem em primeiro lugar”. Então, na verdade não.

Nas sociedades mais civilizadas, o direito individual e coletivo andam juntos e em equilíbrio. Claramente, negar tomar uma vacina para uma doença altamente contagiosa e potencialmente letal fere muito mais o direito coletivo de não ser infectado do que o direito individual de não se vacinar.

Ninguém será levado à marra para a vacinação. Mas instituições privadas e outros Estados-nações podem se recusar a recebe-lo sem a vacina, assim como o governo pode não lhe conceder benefícios públicos caso você não cumpra seus deveres cívicos. São consequências razoáveis para uma decisão individual tão egoístas e desprovida de bom senso.

A vacinação deve ser coletiva e o máximo de pessoas possível deve se vacinar. Isso não apenas contem a disseminação da doença, mas atrasa a formação de mutações no vírus. Caso pessoas não vacinadas fiquem contraindo a doença, mesmo que não transmitam imediatamente para pessoas vacinadas, elas podem ser vetor de mutações que superem a imunização da vacina, causando nova pandemia, exigindo que as pesquisas sejam reiniciadas e nova quarentena seja estabelecida. Definitivamente o indivíduo não tem o direito de tomar o destino da humanidade para si mesmo.

No mais, não faz sentido nenhum que as mesmas pessoas que negam a efetividade e segurança de uma vacina comprovada cientificamente sejam as mesmas que defendem hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina, vitamina D, zinco entre outros para Covid-19, os quais comprovadamente não funcionam contra a doença.

A população leiga eu sinto ser apenas muito confusa. Já o presidente é mau caráter e oportunista mesmo, aproveitando-se dos medos sociais para causar polêmica, pânico e de alguma forma se beneficiar politicamente com isso, mesmo que às custas de milhares de mortes e colocando em risco a segurança pública e sanitária (uma tática que apenas uma mente de fato muito perversa conseguiria conceber).

É isso. Mantenham-se em segurança. Até a vacina chegar o distanciamento social ainda é a principal estratégia de prevenção.

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