A novela ping pong

Bolsonaro muda o seu discurso e decide comprar a vacina Coronavac, que tem parceria com o Instituo Butantan, mas num devaneio repentino que tomou essa decisão na compra da vacina chinesa.

Dias atrás estava num gesto completamente irracional e sem fundamento, e obrigou o ministro da saúde, um general já de idade, a mudar toda política de vacinação contra a Covid-19 feita até aquele momento pelo capricho do presidente. E ainda obriga o ministro a fazer um vídeo constrangedor falando “uns mandam e outros obedecem” com o presidente do lado olhando.

Caso se tratasse apenas de uma relação de trabalho, já seria abusivo o suficiente ter um chefe que toma decisões arbitrárias e sem fundamentos e obriga você a começar o seu trabalho do zero. Em geral, trabalhadores sabem como esses chefes, normalmente arrogantes, são um problema para o funcionamento da empresa. São considerados maus chefes. E não tem poder que justifique má chefia.

Contudo, a coisa é mais grave quando tratamos de política, que, diferente de uma empresa, é por natureza aberta ao diálogo e ao contraditório. Os ministros escolhidos servem muito mais para aconselhar o presidente, com autonomia em suas respectivas pastas, do que para obedecer ordens arbitrárias.

Quando a lideranças política se aproxima do perfil de liderança que exige demonstrações de lealdade e obediência absoluta, ela por definição se aproxima das lideranças de regimes totalitários, e isso fora de qualquer contexto ditatorial ou golpista de fato.

Esta é a descrição de Hannah Arendt do líder totalitário, usando como exemplo Hitler e Stalin. Como o movimento totalitário é um movimento em suspensão, que não pode parar de se mover para não precipitar e desaparecer, o líder alimenta o movimento justamente tomando atitudes progressivamente irracionais e arbitrárias.

O princípio do método não é a mera obediência cega, mas a obediência a contragosto, contra o próprio juízo, mesmo enxergando o erro. Quanto mais absurda a ordem, maior o sacrifício da razão de quem obedece. Só em tais circunstâncias temos exemplos de lealdade total.

É este tipo de obediência que Bolsonaro exige de seus ministros e súditos. Em seu egocentrismo, põe à prova a capacidade de obediência absoluta de ministros e generais, sobretudo diante de ordens criminosas. Emula Stálin e o período mais sombrio da URSS mais do que qualquer direitista que teme essa representação caricata do socialismo pode imaginar.

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