O perigo das mentiras e a ascensão do totalitarismo na sociedade brasileira

Fake news e a construção de uma realidade distorcida

A propagação de mentiras tem sido um fenômeno central em regimes totalitários ao longo da história, especialmente em movimentos como o nazismo, que utilizaram a manipulação da verdade para justificar e incitar a violência em larga escala. Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, sabia que uma mentira repetida incansavelmente poderia ser aceita como verdade. E foi com esse princípio que a ideologia antissemita foi alimentada e que o Holocausto se tornou uma realidade devastadora, uma tragédia que foi precedida por mentiras e distorções que pintavam os judeus como inimigos da Alemanha e da humanidade.

No Brasil, a situação não é muito diferente. Em um cenário marcado pela ascensão das fake news, há uma indústria de desinformação que se propaga rapidamente por meio das redes sociais, difundindo mentiras criadas de forma profissional para deslegitimar movimentos sociais e incitar a violência contra eles. Esse fenômeno tem se tornado uma ferramenta poderosa para a manipulação de massas, evidenciando a fragilidade do bom senso coletivo e da capacidade de discernimento da sociedade.

Casos recentes ilustram o poder dessas mentiras. Após a execução da vereadora Marielle Franco, espalhou-se a ideia de que ela estava envolvida com traficantes e que sua morte tinha ligação com o tráfico de drogas, uma narrativa que, além de distorcer os fatos, visava desviar o foco das questões reais de sua morte e do contexto de violência política que a envolvia. Da mesma forma, após o ataque ao acampamento do PT, surgiu a teoria de que os próprios militantes haviam forjado o ataque, demonstrando a disposição em acreditar na versão mais conveniente, mesmo que sem qualquer base factual.

E agora, com o incêndio na ocupação do prédio da Polícia Federal, novas mentiras tomaram conta, como a de que movimentos sociais estariam envolvidos em um esquema para se beneficiar financeiramente com a colaboração de proprietários de imóveis ociosos. Além disso, circulam rumores absurdos sobre vacinas, como a mentira de que a Coronavac faria as pessoas se transformarem em jacarés. Essas histórias não apenas desafiam o bom senso, mas também estão tão distantes da realidade que se tornam perigosas, alimentando um clima de desinformação e paranoia que acaba por justificar qualquer tipo de violência ou agressão.

O impacto desse fenômeno é alarmante. Ao disseminar mentiras de maneira tão eficaz, cria-se uma realidade paralela onde a verdade é distorcida e os inimigos da sociedade são fabricados. Movimentos sociais, em sua essência, são retratados como agentes do mal, conspiradores que devem ser combatidos a qualquer custo. Essa narrativa serve para fortalecer a ideia de uma classe média ameaçada, levando a uma polarização cada vez mais agressiva e a uma aceitação crescente da violência como resposta.

O que se observa é que, apesar dos apelos para que a sociedade brasileira se responsabilize pela busca da verdade, o efeito das fake news continua a ser devastador. Embora o raciocínio lógico e a verificação de fontes sejam fundamentais para a preservação da democracia e do estado de direito, a propagação dessas mentiras tem encontrado terreno fértil em um contexto de desconfiança generalizada e alienação. A sombra do autoengano paira sobre a sociedade, alimentando um ciclo de desinformação e violência que se torna cada vez mais difícil de interromper.

Essa realidade não é apenas uma ameaça à integridade política e social do Brasil, mas também um sintoma do quão distante a sociedade pode se afastar da verdade, permitindo que o mal se disfarce de justiça. O mal não precisa ser explicitamente visível para causar danos — sua presença nas pequenas mentiras cotidianas é suficiente para corroer as bases da convivência pacífica e da verdade.

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