O ex-presidente Jair Bolsonaro, ao reagir de forma agressiva a perguntas sobre o gasto de recursos públicos com itens como leite condensado e chicletes, revela não apenas seu posicionamento ideológico, mas também uma abordagem fundamentalmente autoritária em relação à democracia e à liberdade de expressão.
A atitude de Bolsonaro ao se referir à mídia e a jornalistas de maneira agressiva e desrespeitosa reflete, de forma clara, sua postura em relação à democracia representativa. Para ele, o compromisso com a transparência e a prestação de contas à sociedade não é prioridade. Em um sistema democrático, a população tem o direito de questionar seus governantes e exigir explicações sobre o uso dos recursos públicos, especialmente quando se trata de gastos considerados excessivos ou inadequados. No entanto, Bolsonaro parece enxergar esses questionamentos não como um direito legítimo da sociedade, mas como um obstáculo ao seu poder, o que demonstra um desprezo pela democracia e pelo sistema de freios e contrapesos que permite o funcionamento saudável de uma nação democrática.
Ao adotar uma postura hostil diante da liberdade de expressão, Bolsonaro também revela uma compreensão distorcida do conceito. A verdadeira liberdade de expressão não é um salvo-conduto para ofensas gratuitas ou ataques infundados, mas o direito de questionar o poder e expor as ações de governantes de forma crítica. Quando o presidente ataca jornalistas e tenta silenciar os questionamentos, ele não está apenas limitando a liberdade de imprensa, mas também minando a própria essência da democracia, que depende de um debate aberto e saudável sobre as ações do governo.
Bolsonaro, ao reagir dessa maneira, não apenas desrespeita os jornalistas, mas também coloca em risco a liberdade de todos os cidadãos de questionar o poder. Sua tática de desviar o foco com respostas provocativas e agressivas visa criar uma distração que, ao mesmo tempo, reforça a ideia de que ele é um homem “corajoso” e “autêntico”, afastado das “elites” e “politicamente correto”, buscando agradar seu eleitorado mais fiel. Isso é feito através da retórica da bravura e do confronto com a imprensa, onde o presidente se coloca como uma figura de oposição, não apenas ao sistema político tradicional, mas também às regras democráticas que garantem a liberdade de expressão.
Outro ponto importante é a maneira como Bolsonaro reage a questões sobre a corrupção envolvendo sua família e seus aliados. O fato de ele evitar dar respostas claras e, frequentemente, recorrer ao ataque à imprensa, é uma estratégia para encobrir as denúncias de corrupção e desviar a atenção dos seus próprios envolvimentos. Ao invés de oferecer explicações transparentes, o ex-presidente prefere perpetuar uma retórica de vitimização, onde ele se coloca como alvo de um “establishment” que tenta miná-lo, mesmo quando está sendo questionado sobre questões legítimas que dizem respeito a seu governo e à administração pública.
O comportamento de Bolsonaro durante o governo também reflete seu desprezo por políticas públicas que visam a assistência social. Ao longo de sua carreira, ele sempre se opôs a iniciativas como o Bolsa Família, e, mais recentemente, o auxílio emergencial, que se tornou uma ferramenta crucial durante a pandemia de Covid-19. No entanto, sua postura contraditória ao adotar essas políticas no auge da crise, com o objetivo de agradar eleitores e garantir apoio popular, é mais uma prova de seu caráter oportunista. Esse tipo de atitude gera uma desconfiança legítima sobre suas verdadeiras intenções, já que ele parece priorizar sua própria reeleição em vez de buscar soluções sustentáveis para os problemas do país.
Bolsonaro também se caracteriza pela sua tendência a encobrir suas falhas e ações controversas com discursos inflamados que visam criar um clima de polarização e desinformação. Ao atacar jornalistas e críticos, ele não apenas diminui a credibilidade da mídia, mas também promove uma cultura de intolerância que pode ter efeitos devastadores para a liberdade de expressão e a democracia como um todo.
A necessidade de uma abordagem crítica em relação ao governo Bolsonaro, especialmente no que diz respeito às suas políticas, à corrupção envolvendo sua família e ao seu comportamento perante a imprensa, é crucial para a manutenção da saúde democrática do país. Continuar a questionar e denunciar essas práticas é essencial para evitar que o Brasil retroceda em termos de liberdade e justiça social. A busca pela transparência e pelo combate à corrupção deve ser uma prioridade para todos os cidadãos e para a mídia independente, que desempenha um papel fundamental em garantir que o poder seja constantemente monitorado e responsabilizado.
Em um contexto mais amplo, a atitude de Bolsonaro é sintomática de um fenômeno global em que líderes populistas têm adotado comportamentos autoritários para enfraquecer as instituições democráticas. Sua retórica agressiva e a tentativa de silenciar a mídia são táticas comuns nesse tipo de governo, que visa enfraquecer a oposição e garantir a perpetuação no poder por meio de estratégias de polarização e desinformação.
Portanto, é necessário que a sociedade continue vigilante e engajada na defesa da liberdade de expressão e da democracia. As ameaças à liberdade de imprensa, como as feitas por Bolsonaro, não devem ser ignoradas, pois elas têm implicações profundas para a qualidade da democracia e para a saúde pública das instituições. A imprensa, a oposição e a sociedade civil devem se unir para garantir que o poder seja sempre fiscalizado e que os governantes sejam responsabilizados por suas ações.
A história demonstrou que os períodos de autoritarismo e censura sempre levam a retrocessos sociais e políticos. Nesse sentido, a luta pela liberdade de expressão deve ser uma constante, especialmente em um momento em que a democracia parece estar sendo constantemente ameaçada por aqueles que se consideram acima da lei. A resistência a essa retórica de autoritarismo, que busca destruir a crítica e a reflexão, é fundamental para preservar os direitos democráticos e garantir que as gerações futuras possam viver em uma sociedade livre, justa e responsável.