Em um contexto onde as representações artísticas latino-americanas frequentemente focam nas lutas e nas vivências dos trabalhadores, a obra de Tarsila do Amaral se destaca como uma das poucas que dialoga com a ideia de “trabalho alienado”.

A arte de Tarsila do Amaral, com seus símbolos e cores vibrantes, é um marco na arte moderna brasileira. Sua obra “Pés e Mãos” se destaca não apenas pela força estética, mas também pela forma com que aborda o conceito do trabalho, especialmente o trabalho proletário. Quando olhamos para os pés e as mãos, destacados com um contraste nítido em relação à cabeça, vemos mais do que uma representação de uma figura humana — vemos o simbolismo de um ser privado de bens materiais, refletindo as dificuldades e a alienação do trabalhador.
Em um contexto latino-americano, onde o tema do trabalho e da exploração do campesinato é amplamente retratado, especialmente na Argentina, a obra de Tarsila se destaca pela maneira com que captura a essência do “trabalho estranhado”. Ao contrário de outras representações que focam na luta externa, Tarsila nos convida a olhar para a alienação interna, para o despojamento do ser, a desconexão do trabalhador com sua própria essência e o distanciamento dos frutos de seu labor.
A obra não é apenas uma crítica ao sistema econômico, mas também uma reflexão sobre a condição humana em um mundo onde a divisão do trabalho e as desigualdades sociais são profundas. Ao retratar um ser destituído de bens, Tarsila nos força a questionar a forma como a sociedade valoriza o trabalho e como o indivíduo se perde em suas próprias funções, distanciado de sua humanidade. É uma obra que, mesmo sendo vanguardista em sua época, continua a ter relevância para entendermos a realidade do trabalhador no Brasil e na América Latina.
Em um cenário em que estamos ainda muito aquém de uma compreensão plena do envolvimento político e social da população, especialmente em relação aos trabalhadores, Tarsila faz uma crítica que transcende fronteiras e que permanece extremamente pertinente. Sua obra, simples em sua composição, é uma poderosa reflexão sobre o trabalho, a alienação e a busca por um sentido mais profundo na vida cotidiana. Valeu, Tarsila!