Reflexões sobre a repressão, a repressão política e o papel da ética política em tempos de autoritarismo.
O contexto político e econômico da Venezuela, particularmente em tempos de Assembleia Constituinte, é um reflexo das complexas e contraditórias realidades que o país atravessa. Embora a conjuntura seja marcada por uma intrincada rede de interpretações, uma coisa é certa: a repressão violenta do Estado contra manifestantes e as prisões políticas arbitrárias se destacam como evidências claras da degradação das liberdades democráticas. Não é necessário muito esforço para classificar o governo de Nicolás Maduro como uma ditadura. A despeito dos resultados eleitorais e do processo em que a Constituinte se instaurou, a democracia não se resume a votos e à vontade da maioria.

A morte de manifestantes em protestos não é um acidente, nem tampouco algo banal. Quando o Estado emprega violência contra cidadãos que buscam expressar suas opiniões, ele viola os princípios fundamentais de uma democracia. Algumas liberdades políticas, como o direito à manifestação pacífica, não devem ser violadas, independentemente da ideologia partidária ou do projeto de sociedade defendido.
É desafiador compreender como, em um momento em que a esquerda brasileira reivindica a proteção dos direitos humanos e a preservação das liberdades democráticas em nosso próprio país, há uma postura tão complacente em relação à repressão na Venezuela. Argumentos como “não dá para saber direito o que acontece lá” soam como uma tentativa de relativizar uma realidade que não necessita de maiores explicações para ser observada.
Em tempos de incertezas e de acesso limitado a informações, o papel da ética política se torna crucial. A postura ética exige que nos posicionemos claramente diante de violências e injustiças, sem tergiversar diante de fatos evidentes. A apatia ou a tentativa de justificar o autoritarismo venezuelano com base em uma visão ideológica distorcida não faz jus aos princípios de liberdade e dignidade humana que devem ser defendidos por todos.
O balanço realizado pelos 545 deputados constituintes da Venezuela, que finalizam as atividades da Assembleia Nacional Constituinte sem apresentar uma nova constituição, é um reflexo de como um processo de reformas institucionais, sob um governo autoritário, pode ser corrompido. A falta de uma nova carta magna é apenas a ponta do iceberg de um processo que negligencia o princípio democrático de participação popular genuína.
Portanto, a postura ética na política, especialmente no cenário latino-americano, exige que denunciemos e não aceitemos qualquer forma de autoritarismo, seja ele disfarçado de democracia, seja ele baseado em uma ideologia que defenda um projeto de sociedade a qualquer custo. O momento é de reflexão sobre como, em nome de valores mais altos, podemos e devemos agir para defender os direitos humanos, a liberdade e a dignidade dos povos, especialmente daqueles que enfrentam regimes repressivos como o de Maduro na Venezuela.