A “questionável” paternidade gay

“Sempre pensei que a paternidade não está em conflito com a orientação sexual. E embora existam carências ignorantes de critérios que vão contra dois homossexuais cuidarem de uma criança, por considerá-la antinatural, acho mais antinatural que existam crianças privadas de um lar e da proteção que uma família dá. Isso é abominável.”

Falar de famílias homoparentais em um país como o Brasil — e também na América Latina — sempre foi motivo de polêmica, conflito e negação absoluta por parte desses grupos conservadores, “a favor da família tradicional”. Que asseguram que o natural e o normal, é que os filhos tenham pai e mãe, uma vez que sustentam que é precisamente a isso que se refere a palavra “casamento”, e embora etimologicamente se refira à união de um homem e uma mulher, também é verdade que atualmente pensando-se nisso como a forma única e exclusiva de união entre duas pessoas, é absurdo e arcaico.

Homoparentalidade: a tua família é igual à minha?
Foto família Gay. Foto banco de dados.

A realidade, e como sempre defendi, é que o mundo está mudando e as concepções que tínhamos sobre certas práticas tradicionalistas — para não dizer errôneas — do que deveriam ser ou critérios infundados, também começam a ser esquecidas e as renovação. 

Em particular, ainda acho um absurdo saber que ainda existem grupos de pessoas que continuam a marchar a favor da família tradicional e do que é “normal” segundo as suas crenças, preconceitos e ignorância.

Há poucos dias, ouvi uma mensagem de um jovem que não era apenas gay, mas também pai solteiro. Sua consternação, angústia e medo com a ideia de não ser bom o suficiente para cuidar de um filho e ser capaz de criá-lo corretamente podiam ser vistos claramente na mensagem. Ele descreveu que sua orientação sexual, “o que as pessoas vão dizer”, preconceitos e sinais sociais de desaprovação, muitas vezes o faziam questionar sua paternidade e se ele realmente teria a capacidade de ser um bom pai.

Quando terminei de ler a mensagem, imediatamente pensei que deveria repensar o conceito de paternidade que temos hoje, para um mais revolucionário e inclusivo. Então peguei meu computador e comecei a escrever este texto.

E ainda olhe para o homem que era… então não venha até mim.

Devo confessar que nos últimos meses o meu próprio conceito de paternidade gay mudou, inclusive a forma como me refiro a isso como “gay”, porque se formos honestos, não existe paternidade gay ou heterossexual, é simplesmente criação paterna e pronto. Quem é pai ou mãe, é, e ponto final. 

No entanto, ainda existem muitos por aí, estrategicamente espalhados pelo mundo, que parecem não entender esse argumento. Felizmente consegui entender de uma forma completamente experiencial e vou te dizer o porquê.

A mensagem de que falei nas falas anteriores chegou a uma das redes sociais de um rapaz parceiro, que como muitos de vocês sabem — não é só gay, mas também pai, e um grande exemplo a ser seguido.

Banco de imagens Pixabay

Durante anos, tive consciência da ideia de que dois homens ou mulheres poderiam se tornar pais de uma criança para criá-la, cuidá-la e educá-la, mas nunca havia vivido tão de perto, muito menos saber como era, na prática, até eu o conheci com o pacote incluído.

“Ser pai ou mãe é um direito que todos podem exercer, desde que se assuma a vontade e a responsabilidade que isso implica, para que nesta área a orientação sexual seja desnecessária. Simples.”

Daquele momento e até agora, pude encontrar e ver na primeira fila a forma como um homem homossexual se comporta a cargo de um bebê que, por uma questão de vida, acabou sendo seu.

Quem tem a sorte de ser incluído nessa rotina de vida entra para acabar de conformar o que tantos têm insistido em rejeitar: uma família homoparental.

Mas por que estou dizendo isso que é tão pessoal e tão íntimo? Pelo simples fato de que lá fora, existem milhares de pais e mães homossexuais, solteiros ou não, passaram pelo medo, pela dúvida e pela incerteza causada ​​pelo desempenho do papel paterno ou materno. Tendo uma orientação sexual que sempre despertou preconceito, fofoca e rejeição por uma sociedade ainda ignorante e sem bom senso. 

Uma sociedade majoritariamente heterossexual que tem medo do tipo de educação que uma criança com pais homossexuais pode receber, mas que, por outro lado, continua a abandonar os filhos porque não pode cuidar deles depois de saírem do útero.

Acredito e sustento firmemente que ser um bom pai ou boa mãe não depende em nada da orientação sexual, porque ser, não só implica uma grande responsabilidade, mas também muita coragem e coragem para poder educar um pequeno.

E conseguir transformá-la em alguém de bem, útil não só para ela, mas também para os outros. Esse é o objetivo de todos os pais com seus filhos, semear boas sementes que darão bons frutos mais tarde.

Espero sim vivenciar essa realidade de forma corajosa, quero estar com alguém que não tenha dúvida de passar a viver essa realidade e momento, vou mostrar o quão maravilhoso e responsável pode ser um pai homossexual no comando de um pequeno.

Portanto, para todos os pais gays, solteiros ou não, que por algum motivo ou outro chegaram a tocar os fundamentos da paternidade, digo-lhes que confiem e sigam; esqueça o que os outros podem ou não dizer, porque não são eles que vão cuidar daquela criança. Aprenda que a capacidade de ser pai não é depender de nada, mais do que da vontade e da responsabilidade que eles assumem para cumpri-la.

Enfim, a vida não tem um manual para ninguém para ser um bom pai, mas a natureza, que é muito sábia, nos ensina a desenvolver esse instinto de agir corretamente e fazer aquele menino ou menina se tornar um ser humano extraordinário. 

Como sei? Porque conheço pais gays que são três homenzinhos incríveis que se ajudam e foram eles que me ajudaram a explorar esse lado paterno e a entender melhor, e assim pude sentir o que eu não sabia que tinha e confirmaram em primeira mão o que pensei toda a minha vida: o pai não é quem gera, é quem cria e faz. Tudo certo. 

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