O novo ministro da Saúde ainda está longe de ser comparado a seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, em termos de liderança e empatia
Nelson Teich assumiu o Ministério da Saúde em um momento crítico da pandemia de Covid-19, com o Brasil enfrentando altas taxas de infecção e mortalidade. No entanto, sua liderança tem sido marcada por um contraste em relação a seu antecessor, Luiz Henrique Mandetta, especialmente no tocante à postura e ao discurso. Enquanto Mandetta se destacava pela empatia e pela comunicação eficaz com a população, Teich tem se mostrado mais técnico e com um distanciamento emocional, algo que tem gerado críticas.
A frase que o colocou em evidência recentemente foi um comentário que muitos consideram frio e controverso, sugerindo que, em situações de escassez de recursos, a escolha entre salvar um idoso ou um jovem poderia ser feita com base em critérios racionais. Essa escolha difícil, embora real em algumas circunstâncias no setor de saúde, reflete a dura realidade de um sistema de saúde sobrecarregado, mas também revela uma falta de sensibilidade em um momento que exige maior empatia e compreensão do sofrimento humano.
Esse tipo de postura tem gerado desconforto entre profissionais de saúde e especialistas, que destacam que, embora as decisões técnicas e a racionalidade sejam fundamentais na gestão da saúde pública, a liderança também deve ser sensível ao sofrimento da população. Em tempos de pandemia, a capacidade de ouvir e compreender as angústias das pessoas torna-se uma habilidade essencial para um ministro da saúde. A falta de uma postura mais acolhedora por parte de Teich pode contribuir para um distanciamento entre o governo e os cidadãos, dificultando a confiança no sistema de saúde.
Além disso, a administração de Teich ainda precisa lidar com a falta de recursos e infraestrutura adequadas para combater a pandemia. A escassez de leitos, insumos médicos e profissionais de saúde já estava em evidência desde o início da crise, mas a resposta do governo federal tem sido alvo de críticas por sua lentidão e falta de coordenação entre os diferentes níveis de governo.
Em meio a esse cenário, o governo de Teich enfrenta a difícil tarefa de equilibrar as exigências técnicas da saúde pública com as demandas emocionais e sociais que surgem durante uma crise sanitária sem precedentes. A gestão pública de saúde não pode se resumir a números e decisões técnicas; ela deve também ser capaz de se conectar com a dor e o sofrimento das pessoas, para que o enfrentamento da pandemia seja mais do que uma simples estratégia política, mas uma verdadeira ação de solidariedade.
O ministério de Teich será lembrado, sobretudo, pela maneira como ele lidou com os dilemas éticos e emocionais trazidos pela pandemia e pela forma como conseguiu ou não se conectar com a realidade do sofrimento da população.
O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, tem demonstrado um comportamento que revela a falta de empatia e solidariedade nas decisões sobre a pandemia de Covid-19
O novo ministro da Saúde, Nelson Teich, tem se destacado por uma postura fria e pragmática frente aos desafios da pandemia de Covid-19, especialmente ao tratar de questões difíceis, como a escassez de recursos para atendimento médico. Um exemplo claro dessa frieza foi sua afirmação sobre a escolha entre um idoso e um jovem quando se trata de recursos limitados. Em vez de temperar suas palavras com sensibilidade e reconhecer a importância de ambos os grupos, Teich adotou uma posição cruel e direta: diante da escassez, a escolha seria pelo jovem. Esse comentário, que gerou repulsa entre os profissionais da saúde e a sociedade, reflete uma mentalidade que prioriza a lógica fria e utilitarista, sem consideração pela dignidade humana.
Esse tipo de declaração não é isolado. Outro episódio que gerou críticas foi o desabafo de uma filha de uma antiga paciente de Teich, que relatou a morte agonizante de sua mãe após ele ter se recusado a atendê-la, alegando que o caso não tinha solução. A paciente agonizava no corredor do hospital enquanto Teich, aparentemente insensível à dor da família, mantinha sua posição de afastamento. Esse episódio é emblemático de uma marca coletiva do bolsonarismo, onde a solidariedade e a empatia são substituídas pela dureza e pela falta de humanidade.
Essa postura não se limita ao comportamento de Teich, mas reflete uma tendência mais ampla dentro do governo Bolsonaro, que tem demonstrado uma incapacidade de reconhecer e compreender a dor do próximo. As atitudes de figuras como o ministro Luiz Fux e o ministro da Justiça Sérgio Moro, especialmente em relação ao encarceramento, também exemplificam essa frieza moral. Em vez de considerar as circunstâncias específicas de cada caso, essas autoridades adotam uma posição rígida e impessoal, sem espaço para as complexidades humanas.
A opção pelo bolsonarismo, e suas atitudes desumanizantes, tem se mostrado um teste de caráter para muitas pessoas no Brasil. Embora inicialmente o apoio a Bolsonaro pudesse ser explicado por um antipetismo radical e por uma cobertura midiática enviesada, o perfil de Bolsonaro e suas ideologias fascistas tornaram-se claros. Isso evidenciou uma divisão moral no país, que levou a um apoio concentrado entre as figuras mais imorais e insensíveis da sociedade brasileira, como empresários de linha dura e políticos corruptos.
Teich, assim como outros membros do governo, tem se colocado nessa linha de moralidade duvidosa, o que o distingue de seus antecessores, como Luiz Henrique Mandetta, que, apesar de ser alinhado ao bolsonarismo, demonstrou mais sensatez e empatia nas decisões de saúde pública. Embora Teich não esteja diretamente conduzindo uma política genocida, sua falta de sensibilidade e o foco excessivo em uma lógica fria e pragmática são preocupantes para o futuro da saúde pública no Brasil.
A gestão de Teich, até agora, tem se mostrado incapaz de utilizar a principal arma de seu antecessor: o discurso de união e solidariedade. Sua frieza e falta de alma podem comprometer não apenas a eficácia de sua gestão, mas também a confiança da população na capacidade do governo de enfrentar a crise sanitária. A saúde pública exige mais do que decisões baseadas em números; exige humanidade, empatia e o reconhecimento da importância de todas as vidas, independentemente da idade ou condição social.
O desafio do novo ministro será, então, não apenas combater a pandemia com as ferramentas disponíveis, mas também recuperar a confiança e a esperança de um país que precisa mais do que nunca de uma liderança compassiva.