Apesar de seu nome, a Gripe Espanhola não teve origem na Espanha. Sua propagação se deu de forma global, com uma alta taxa de mortalidade, e atingiu de forma devastadora os campos de guerra durante a Primeira Guerra Mundial.
Durante a Primeira Guerra Mundial, os soldados não enfrentaram apenas os inimigos fardados nas trincheiras. Um novo inimigo invisível surgiu, capaz de causar danos imensuráveis. A doença, que ficou conhecida como Gripe Espanhola, foi uma das pandemias mais letais da história, deixando uma marca indelével na medicina e na humanidade. A propagação do vírus gerou momentos de grande tensão e isolamento ao redor do mundo, enquanto a população lutava contra um inimigo que não podia ser visto ou combatido com as armas tradicionais.
O nome “Gripe Espanhola” acabou se associando à doença, mas, na verdade, não há provas concretas de que o vírus tenha se originado na Espanha. A origem do vírus ainda é debatida, mas muitos pesquisadores acreditam que a epidemia tenha começado nos campos de treinamento militar dos Estados Unidos. Durante a guerra, as grandes potências envolvidas no conflito não queriam divulgar que seus soldados estavam doentes, pois isso poderia afetar o moral e a moralidade das tropas. A Espanha, sendo um país neutro, não teve as mesmas restrições e, por isso, se tornou o primeiro país a divulgar amplamente o surto. Essa divulgação fez com que o vírus ficasse conhecido como “Gripe Espanhola”, embora outros estudiosos sugiram que o nome tenha sido atribuído devido ao grande número de vítimas fatais na Espanha.
Independentemente de sua origem, o impacto da Gripe Espanhola foi devastador. A pandemia afetou profundamente as tropas em batalha, que já enfrentavam condições extremas nas trincheiras. O vírus, que parecia escolher suas vítimas de forma aleatória, se espalhou rapidamente entre os soldados, causando febres altas, dores no corpo, dificuldades respiratórias graves e, em muitos casos, a morte em poucos dias. A falta de recursos médicos, juntamente com a quantidade esmagadora de pessoas afetadas, resultou em uma situação de colapso nos hospitais militares. A escassez de caixões levou à prática de sepultamentos improvisados, com corpos sendo empilhados e sepultados sem caixões, muitas vezes embrulhados em lençóis de cama.
Com a propagação do vírus, a falta de coveiros, muitos dos quais também estavam doentes, dificultou ainda mais o processo de sepultamento. Algumas áreas recorreram à ideia de sepultamentos seletivos, e os mortos eram enterrados de maneira apressada e desordenada. A epidemia causou um caos incomparável, levando muitas famílias e soldados a enfrentar uma dor sem precedentes. A capacidade respiratória dos infectados se deteriorava rapidamente, e os médicos não tinham recursos suficientes para tratar os doentes de forma eficaz.
O outono de 1918 marcou o fim da Grande Guerra na Europa, com a paz começando a surgir no horizonte. No entanto, enquanto os aliados se aproximavam da vitória, um novo pesadelo se abatia sobre o mundo: a pandemia de gripe. O vírus, que inicialmente parecia um resfriado comum, revelou-se uma ameaça global devastadora, deixando um rastro de sofrimento e morte em seu caminho.
A Gripe Espanhola é lembrada não apenas como um episódio sombrio da história, mas também como um exemplo da rapidez com que uma doença pode se espalhar e dos desafios enfrentados pelas autoridades de saúde na luta contra pandemias. Ela também destaca a importância de uma resposta global coordenada para prevenir futuras crises de saúde pública.

Com uma taxa de mortalidade alarmante, a pandemia de 1918 mudou a história da medicina e reduziu drasticamente a expectativa de vida da população mundial.
A gripe de 1918, que ficou conhecida como Gripe Espanhola, não foi apenas um simples resfriado. Durante os dois anos em que essa pandemia assolou o planeta, cerca de um quinto da população mundial foi infectada. Ao contrário das gripes comuns, que afetavam principalmente crianças e idosos, o vírus da Gripe Espanhola teve uma característica incomum: ele foi particularmente letal para adultos jovens, entre 20 e 40 anos. Esse padrão de morbidade foi um dos principais motivos pelo qual a pandemia foi tão devastadora. Estima-se que, nos Estados Unidos, 28% da população foi infectada e 675 mil pessoas morreram devido à gripe, um número até dez vezes maior do que as mortes causadas pela Primeira Guerra Mundial.
A epidemia de Influenza foi um dos maiores desastres de saúde pública da história. Sua virulência foi impressionante, com uma taxa de mortalidade de 2,5%, muito superior às taxas de mortalidade de epidemias anteriores de gripe, que eram inferiores a 0,1%. Além disso, a doença teve um impacto tão significativo na sociedade que a expectativa de vida dos americanos foi reduzida em 10 anos devido ao número elevado de mortes.
O número de mortes foi particularmente alto entre pessoas com idades entre 15 e 34 anos, com uma taxa de mortalidade 20 vezes maior do que nos anos anteriores. As pessoas foram atingidas de forma repentina, muitas vezes desenvolvendo os sintomas rapidamente e falecendo em poucas horas. Histórias de pessoas jogando cartas até altas horas da noite e, em seguida, morrendo de gripe na madrugada se tornaram comuns, refletindo a velocidade com que a doença se espalhou.
A pandemia de gripe se espalhou rapidamente pelo mundo, seguindo as rotas comerciais e de navegação. A maior parte da humanidade foi afetada, com surtos ocorrendo nos cinco continentes. Na Índia, a taxa de mortalidade foi particularmente alta, com cerca de 50 mortes por 1.000 habitantes. As populações mais vulneráveis, como as de áreas mais pobres e menos desenvolvidas, sofreram ainda mais com a rápida propagação do vírus e a falta de infraestrutura médica adequada para lidar com a crise.
Este episódio devastador não apenas causou uma enorme perda de vidas, mas também serviu como um alerta sobre a vulnerabilidade global a pandemias e a importância de uma resposta coordenada para prevenir e mitigar os efeitos de doenças infecciosas. A Gripe Espanhola demonstrou de maneira brutal como um vírus pode atravessar fronteiras, afetar economias e transformar a vida das pessoas em um pesadelo coletivo.

A ajuda da guerra na disseminação do vírus
O movimento massivo de tropas durante a Primeira Guerra Mundial desempenhou um papel crucial na propagação da Gripe Espanhola, amplificando sua taxa de mortalidade e dificultando a resposta ao surto.
A Primeira Guerra Mundial, que já estava causando enorme sofrimento e destruição, contribuiu de maneira inesperada para a disseminação do vírus da Gripe Espanhola. O deslocamento em larga escala de soldados e a movimentação de frotas inteiras pelo mundo facilitaram a propagação do vírus, permitindo que ele se espalhasse rapidamente por diferentes continentes. A guerra e seus efeitos logísticos, como o transporte de soldados feridos e a concentração de grandes números de pessoas em espaços confinados, ajudaram na amplificação do contágio.
Com as origens da doença ainda desconhecidas, várias teorias foram especuladas. Alguns acreditavam que a epidemia poderia ser uma arma biológica, criada pelos inimigos, especialmente os alemães. Outras pessoas associavam a gripe à guerra de trincheiras, aos gases tóxicos utilizados durante os conflitos e à fumaça gerada pelas batalhas. Entretanto, mais pesquisas indicaram que as condições de higiene precárias nos campos de batalha e a superlotação de soldados eram fatores chave para a rápida propagação do vírus.
Estudos de saúde pública tentaram explicar por que algumas áreas foram mais gravemente afetadas que outras. Foi descoberto que a umidade tinha um papel significativo na disseminação do vírus, pois favorecia a sobrevivência e proliferação do agente infeccioso. No entanto, por mais que novas ciências de agentes infecciosos e imunologia estivessem em desenvolvimento, a capacidade de criar uma vacina ou terapia eficaz foi muito limitada, dada a rapidez com que a doença se espalhou.
A gripe teve um impacto severo nas tropas, afetando ambos os lados do conflito. Os soldados que estavam no front, já enfraquecidos por ferimentos e exaustão, não estavam preparados para combater a epidemia. A falta de médicos e hospitais para lidar com os feridos, combinada com a escassez de profissionais de saúde devido ao recrutamento militar, agravou ainda mais a situação. O número de mortes causadas pela gripe foi maior do que o número de mortes causadas pelas batalhas, tornando a epidemia uma verdadeira tragédia de guerra, que não escolhia lados.
Além disso, o vírus não apenas causou a morte de milhares de soldados, mas também enfraqueceu as capacidades das frotas militares e das linhas de frente, deixando os exércitos incapazes de operar de maneira eficiente. Com a escassez de pessoal médico e a sobrecarga dos hospitais, o impacto da pandemia se tornou mais devastador do que qualquer confronto direto entre as forças beligerantes. A Gripe Espanhola se tornou um inimigo invisível que, em meio à devastação da guerra, revelou como a saúde pública global e as condições de vida das populações podiam ser profundamente afetadas por fatores além do controle humano.

A escassez de médicos e a resposta da Cruz Vermelha durante a pandemia
Com médicos afastados para servir nas tropas, a escassez de profissionais de saúde levou estudantes de medicina e voluntários a assumir papéis cruciais no combate à Gripe Espanhola nos Estados Unidos.
Durante a pandemia de Gripe Espanhola, a escassez de médicos devido ao recrutamento para a guerra foi um dos principais desafios enfrentados pelos Estados Unidos e outros países. Sem profissionais suficientes para lidar com o número crescente de doentes, os estudantes de medicina dos anos finais foram designados para atuar como estagiários ou até como enfermeiros, uma vez que as aulas para os alunos do terceiro e quarto ano foram suspensas. Esses jovens, sem a formação completa, estavam na linha de frente no tratamento de uma doença que era desconhecida e altamente letal.
Em resposta à crise de saúde pública, a Cruz Vermelha dos Estados Unidos teve que recrutar um número significativo de voluntários para apoiar os esforços médicos. Para coordenar e maximizar os recursos disponíveis, a Cruz Vermelha criou o Comitê Nacional de Influenza, que atuou tanto no setor militar quanto no civil. O comitê foi responsável por mobilizar enfermeiros, voluntários e materiais médicos, buscando preencher as lacunas deixadas pela falta de pessoal qualificado.
A escassez de enfermeiros foi tão grave em algumas áreas do país que a Cruz Vermelha apelou às empresas locais para liberar seus trabalhadores, permitindo que se tornassem voluntários no atendimento aos doentes durante a noite. A situação foi tão desesperadora que hospitais de emergência foram montados rapidamente para acolher a crescente quantidade de pacientes, tanto locais quanto os que chegavam de outras regiões afetadas pela pandemia.
A pandemia teve um impacto universal, afetando praticamente toda a população mundial. Nos Estados Unidos, um quarto da população foi infectada, enquanto globalmente cerca de um quinto da população foi atingido pelo vírus. A Gripe Espanhola não poupou nem mesmo as figuras de liderança, com o presidente Woodrow Wilson sendo infectado no início de 1919, justamente quando estava negociando o tratado de Versalhes para encerrar a Primeira Guerra Mundial.
Para tentar conter a propagação da doença, as autoridades de saúde pública implementaram medidas rigorosas. A população foi obrigada a usar máscaras de gaze em público, uma tentativa de reduzir a transmissão do vírus. As lojas foram fechadas, e os funerais foram limitados a apenas 15 minutos, devido ao grande número de mortes e à dificuldade de lidar com a quantidade de corpos. Essas medidas, embora drásticas, refletem a gravidade da pandemia e o esforço conjunto da sociedade para conter o surto.

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