O fim da novela épica nas urnas

O Brasil tem sido palco de horror para o mundo nos últimos anos. É de especial gravidade que o líder de intenções de votos no primeiro turno sofra um atentado.

A democracia padece quando a violência adquire o lugar da arena política. Por mais abominável que o discurso do candidato em questão seja, um atentado significa que um mal muito maior do que o próprio mal que o candidato representa aflige a sociedade brasileira.

Esse tipo de barbárie sem dúvidas é mais convidativo para uma sociedade do horror do que o próprio discurso autoritário. E nesse sentido talvez o mal brasileiro seja ainda mais radical do que o próprio Bolsonaro imaginava.

Politicamente é uma situação limítrofe e a única atitude razoável neste momento é que todos se retirem um pouco do campo das ações e contenham seus afetos. Em relação ao resultado das eleições, creio que se torne uma questão menor diante do cenário colocado.

A adesão a candidatos já com muita visibilidade e já beirando o máximo da sua potencial representatividade é relativamente menos significativa do que a radicalização da turba que já apoia esse candidato. Ou seja, ao invés do aumento da turba, o mais preocupante é o maior extremismo da turba já estabelecida.

Se algum diálogo já era difícil, com o mártir no horizonte ele se torna impossível e potenciais atentados de retaliação ganham forma, assim como o maior extremismo do próprio candidato, que num eventual governo vai se vingar da violência que sofreu. A política democrática brasileira acaba de sofrer uma facada muito mais profunda de morte do que a que eventualmente atingiu Bolsonaro.

Um grande apelo por moderação é mais do que necessário nesse país para voltar a ter qualquer horizonte civilizatório, muito antes de se pensar em qualquer retomada do tão desejado crescimento econômico.

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