Entre revolta e resistência, o corpo se torna o ponto de conexão e solidariedade em meio à luta, revelando o poder do cuidado coletivo.
Há momentos em que as palavras parecem insuficientes para expressar o que se sente diante de um cenário que nos entristece, mas que também desperta a necessidade urgente de agir. Ao estar na rua, participando de uma manifestação política, a experiência transcende o ato de simplesmente gritar contra as injustiças que nos afligem. É uma vivência que conecta, que cria laços, que nos lembra da humanidade e do poder do cuidado coletivo.
O corpo, esse lugar tão singular de experiências e emoções, é o espaço onde as ideias e os sentimentos se manifestam, mas nem sempre se encontra na condição de gerar respostas claras diante do caos que se desenrola à nossa volta. A rua, ontem, foi mais do que uma simples plataforma de protesto; ela foi o palco onde as distâncias entre as pessoas, em sua diversidade de histórias e experiências, foram encurtadas por um simples olhar, um abraço, um gesto de carinho. Algo profundo e genuíno aconteceu ali, em meio à tristeza, mas também na força do estar junto.
Não havia desespero, mas uma tristeza manifesta e compartilhada, uma dor que não silenciava, mas que ao mesmo tempo, não paralisava. O que se via era o impulso de continuar, de resistir, de seguir em frente, conspirando pela vida, pela justiça, pela coletividade. A sensação de estarmos juntos, apesar de tudo, se tornou um grito silencioso e forte, como uma reafirmação de que, no meio do sofrimento e da opressão, há uma força imensurável no simples ato de cuidar uns dos outros.
Essa experiência, que se insere no contexto de uma manifestação política, traz à tona o que talvez seja o maior aprendizado: a luta não se dá apenas nas palavras e nas ações diretas, mas também no cuidado. Cuidar é uma forma de resistência, um ato que nos conecta em um nível mais profundo, humanizando a política e dando-lhe um significado que vai além das bandeiras e slogans. Talvez a luta que nos impele a seguir adiante não seja apenas pela mudança externa, mas também por um cuidado mútuo que fortalece o corpo, a alma e a sociedade como um todo.
Ainda é preciso refletir sobre essa experiência e sobre o que ela nos ensina, mas uma coisa é certa: a luta pela vida, pela dignidade e pela justiça nunca será apenas uma questão de vencer o inimigo externo, mas de construir, coletivamente, uma rede de cuidado e apoio que nos sustente em tempos de adversidade.