A morte de Marielle Franco e o legado da luta por justiça

O assassinato de Marielle Franco, com suas múltiplas identidades e militâncias, marca uma tragédia política que revela o perigo da repressão e a persistente violência contra os que se opõem ao sistema.

A morte de Marielle Franco, vereadora militante histórica contra a repressão policial e, na época de sua morte, relatora da comissão de investigação sobre a intervenção militar no Rio de Janeiro, não pode ser encarada como um simples caso isolado ou um acaso.

Ela é o reflexo de um padrão histórico de violência política no Brasil, onde aqueles que desafiam a ordem estabelecida, especialmente os pertencentes a grupos marginalizados, tornam-se alvos de repressão brutal. A execução de Marielle com nove tiros, no centro do Rio de Janeiro, não é apenas uma tragédia pessoal, mas um sinal claro de que forças poderosas ainda buscam silenciar as vozes que ameaçam seu controle.

A tradição militar de agir por terror, matando figuras-chave ou criando situações confusas e surpresas, é bem documentada na história do Brasil, especialmente durante a ditadura militar, mas também se faz presente nas ações mais recentes.

O assassinato de Marielle Franco remonta a um contexto mais amplo de violência política, que inclui, por exemplo, o caso de Vladimir Herzog, morto sob condições misteriosas em 1975, ou a situação atual em que figuras do poder, como o general Eduardo Villas Bôas, fazem declarações que ameaçam a continuidade de investigações e processos de verdade sobre o passado.

Marielle Franco: a quem interessava seu assassinato? | VEJA
Marielle Franco | Foto: Veja SP

Marielle representava tudo o que a elite tradicional e as forças militares não toleram: uma mulher negra, favelada, militante pelos direitos humanos, pela liberdade de expressão e contra a violência do Estado. Para essas forças, sua morte não seria um acaso, mas uma necessidade, um recado. Ela era um símbolo de resistência e, como tal, tornou-se uma vítima do sistema opressor, em um país onde pessoas como ela – negras, mulheres, LGBTs, faveladas – frequentemente são tratadas como descartáveis.

O cenário político atual, em que o extremo se torna a norma e a repressão se intensifica, cria um contexto ainda mais sombrio para aqueles que lutam por justiça e por um Brasil mais justo e igualitário. Não se pode permitir que a morte de Marielle, como tantas outras mortes políticas, seja tratada como mais uma estatística ou um caso irrelevante. A busca pela verdade é uma necessidade, não apenas para honrar sua memória, mas para continuar a luta que ela representava. Não há espaço para medo ou indiferença quando a gravidade do ocorrido é histórica e politicamente inegável.

A morte de Marielle Franco exige que permaneçamos vigilantes, exigindo respostas claras e accountability. Que sua vida e sua luta não sejam esquecidas, e que a justiça finalmente prevaleça, não apenas para ela, mas para todas as vítimas da violência política e institucional que continuam a ser silenciadas neste país.

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