Marielle Presente

Não há nada de paranoia e conspiração em exigir apuração rígida dos fatos e ficar bastante atento quando uma vereadora militante histórica contra a repressão da polícia-militar, atual relatora da comissão de investigação da câmara sobre a intervenção militar no Rio de Janeiro, é morta com 9 tiros no centro da cidade.

É tradição militar agir por terror, matando peças-chave, confundindo de surpresa, e agindo às claras por arrogância. Quantos nesse país não foram mortos e deixados de recado? Antes, em 1975, o “suicídio” de Vladimir Herzog, que se enforcou com os joelhos no chão, agora Marielle Franco é morta num “assalto” que não levaram nada? Não quando, há pouco mais de um mês, o general Eduardo Villas Bôas disse ser necessário dar aos militares “garantia para agir sem o risco de surgir uma nova Comissão da Verdade” no futuro, depois do Michel Temer instaurar a intervenção federal na área de segurança (controle social) do Rio de Janeiro.

Esquerda, preto, mulher, LGBT e favelado sempre foram descartáveis, caçáveis e matáveis nesse país. Por que para essa gente Marielle Franco, que era tudo isso junto, seria diferente? Por que se preocupariam com uma morte silenciosa caso a queima de arquivo ou uma ameaça à militância fosse necessária?

Marielle Franco: a quem interessava seu assassinato? | VEJA
Marielle Franco | Foto: Veja SP

Vivemos tempos sombrios, em que o indizível e o inimaginável bate a porta de nossas casas se apresentando novamente, quando menos se espera. O improvável aos poucos vira regra e o extremo sorrateiramente vira norma.

Não há espaço para receios aqui em exigir a verdade tamanha a gravidade do ocorrido histórica e politicamente. Nosso contexto não permite que o acaso seja a principal hipótese.

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