Luta dos entregadores de aplicativo: um reflexo da desigualdade social e racial no capitalismo tardio

Os entregadores de aplicativo, muitas vezes invisíveis para a sociedade, se tornam protagonistas na luta contra a exploração e o racismo no cenário urbano.

Entregador é chamado de lixo e é alvo de racismo em SP - 07/08/2020 -  Mercado - Folha
Entregadores fizeram protesto contra racismo na porta de condomínio de luxo de Goiânia — Foto: Honório Jacometto/TV Anhanguera

A luta dos entregadores de aplicativo é uma das expressões mais claras da desigualdade social e racial nas grandes cidades brasileiras. Esses trabalhadores, muitas vezes tratados como “empreendedores”, representam a ponta de lança de um sistema que explora e precariza o trabalho. Longe de serem verdadeiramente “empreendedores”, eles enfrentam jornadas exaustivas de até 14 horas diárias, com salários que frequentemente não ultrapassam o valor de um salário mínimo, em condições precárias e expostos aos maiores riscos, sem qualquer tipo de seguro ou proteção social.

Recentemente, entregadores realizaram um protesto contra o racismo em Goiânia, em frente a um condomínio de luxo. O ato simboliza a luta contra o tratamento desigual a essa categoria, muitas vezes marginalizada tanto pelo sistema econômico quanto pela sociedade. O trabalho desses profissionais é essencial para o funcionamento de grandes cidades, mas é desvalorizado e invisibilizado. A precarização do trabalho se intensifica com a ausência de direitos básicos, como acesso à saúde, férias e aposentadoria, o que configura uma exploração sem limites.

A tentativa de reclassificar esses trabalhadores como “empreendedores” é uma das maiores formas de cinismo do capitalismo tardio, que busca camuflar a verdadeira natureza da exploração. Chamá-los de empreendedores não faz com que a precariedade e a opressão desapareçam. Ao contrário, essa reclassificação serve apenas para disfarçar a realidade de um sistema que lucra às custas da precarização do trabalho. Ao considerarem-se “livres” para gerir suas jornadas de trabalho, os entregadores se veem obrigados a enfrentar uma realidade de incertezas econômicas, sem garantias mínimas de saúde e segurança.

As reivindicações dos entregadores são simples, mas essenciais: aumento no pagamento das corridas, aumento da taxa mínima, fim dos bloqueios e desligamentos indevidos, o fim do sistema de pontuação e a garantia de seguros de vida e saúde. Essas demandas visam, na verdade, algo mais profundo do que simples melhorias nas condições de trabalho: elas buscam garantir um mínimo de dignidade, algo que qualquer ser humano deveria ter em um sistema que se diz justo.

A luta desses trabalhadores é uma luta de classe. Quando existe organização, demanda coletiva e resistência, não há mais como falar em “empreendedorismo”. O que está em jogo é a luta por direitos trabalhistas, por uma condição de trabalho mais justa e digna. Ao apoiar a luta dos entregadores de aplicativo, estamos, de fato, apoiando uma luta contra a exploração e o racismo que ainda permeiam nossa sociedade, uma luta pela justiça social.

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